quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Eu Solidário. Eu Otário. Parte II

Continuando o que vos estava a contar. Expliquei ao jovem ressaca que não me era possível dar-lhe mais um contributo para a sua satisfação visceral de heroína. E eis então que a surpresa se me apresenta (ou não). Respondeu-me fria e calmamente “Ó doutor, olhe que eu só uso as seringas para a minha doença...”. Frio muito frio, abateu-se sobre o meu estômago um frio gélido e as pernas começaram a tremer. Não tive reacção alguma. Fiquei assim, com a mão aberta cheia de moedas a olhar para ele. Com calma e os dedos cheios de fome retirou-me as moedas todas da mão o filho da puta, sem que eu emitisse um único pio. Maricas, cobarde, menino de coro, lembro-me de tantos nomes apropriados para chamar a mim próprio nesta circunstancia que em vez de escrever esta história mais me valeria escrever um dicionário de “Sábias palavras para descrever momentos decadentemente maricas e cobardolas” (nota o corrector ortográfico do Word não reconhece a palavra maricas). Assim sendo o caríssimo drogadólas filho de uma prostituta, (desta vez o nome poderia mesmo ser apropriado) pegou no dinheiro todo e foi ao seu caminho, levado pelo seu apurado sentido de vício ao bairro mais próximo para se abastecer. Não diria que fui roubado, nem sequer que houve má intenção por parte do meu novo amigo espontâneo diria sim, como defende a psicologia e programação neuro-linguistica, que fui badalhocamente sugestionado. Aquela criatura penetrou o meu cérebro e com uma mestria digna de Freud escolheu o botão correcto para premir. Sida, hepatite, tuberculose + medo, cobardia, estupefacção = sentimento frustrante de incapacidade de matar. Matar sim, foi a minha vontade passados 5 minutos e ultrapassado o trauma, imaginei como teria sido se em vez de abrir mão do dinheiro tivesse desferido um golpe mortal com um corta unhas na garganta daquele cabrão. Vê-lo espernear no chão como uma galinha a quem acabam de cortar o pescoço a produzir ruídos moribundos de agonia. Que cenário divino... O corpo dele no chão já frio e eu a esmagar-lhe a cabeça meticulosamente com uma pedra da calçada.

Nessa noite sonhei que a NASA tinha encontrado um novo planeta, mesmo ao lado de Saturno para onde eram reencaminhados todos os arrumadores de todos os planetas que existem no universo. Arrumadores de Marte, Saturno, da Terra todos juntos completamente desnudados usando apenas um lenço vermelho no pescoço. Sem qualquer tipo de drogas estes seres amontoavam-se uns sobre os outros trémulos, em pânico e agonia. Neste planeta a pressão atmosférica e a temperatura impediam que os arrumadores, maioritariamente toxicodependentes e alcoólicos, curassem a ressaca. Resultado: uma ressaca eterna cheia de dores espasmos e vómitos para todos estes parasitas. E as vantagens não terminam aqui. Nenhum dos planetas tinha que despender recursos financeiros ou outros para a subsistência destes bichos. Assim, estes alimentavam-se das fezes que produziam e bebiam a própria urina para saciar a sede. Existiam também árvores carregadas de canivetes suíços que serviam para perfurar e estimular as veia simulando o acto intravenoso a que estavam habituados. Pormenor fantástico os canivetes acabavam invariavelmente por ganhar ferrugem e consequentemente bactérias o que acabava por matar alguns destes parasitas mantendo assim o controlo da espécie de forma harmoniosa.

Não estou muito ansioso que se encontre água em Marte ou na Lua. Estou ansioso que descubram este planeta e lhe atribuam este fim.

planets-in-space_7548.jpg

Sem comentários:

Enviar um comentário