segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Eu Solidário. Eu Otário.

Sem pretender abusar da arrogância e tendo em conta que estamos na presença de um formato quase anónimo, sinto-me relaxado para usar este serviço como se de um psiquiatra dos novos tempos se tratasse. Espero então partilhar, com aqueles que queiram queimar algum do seu tempo a ler o que aqui vou colocando, alguma da minha loucura, pequenos apontamentos do que penso sobre os mais variados temas. Quem gostar gostou, quem não gostar que se foda.

Adoro a Solidariedade. É tão bonito ver gente de todas as idades a ajudar o próximo, a juntar esforços, angariar fundos e apoiar aqueles que por uma ou outra razão se perderam algures na máquina social em que nos vemos envolvidos desde o dia em que nascemos até ao dia em que o nosso corpo deixa de ter vida.

Um dia destes, numa rua qualquer, a uma hora que já não recordo, estacionei o meu carro. 12 horas de trabalho tinham passado e procurava algum escape que me permitisse reciclar alguns dos pregos que nos vemos obrigados a engolir todos os dias para levar uma vida minimamente confortável. Sim porque em Portugal ou és vigarista, puta, autarca (que acaba por estar ligado às duas primeiras) ou então tens mesmo que trabalhar mais horas do que gostarias. Bem voltando ao que estava a relatar, estacionei o carro. Bati a porta. Fechei o carro. Dei dois passos e qual a visão que se me apresenta? Uma massa mole de pouca carne e muitos ossos, a correr desenfreado na minha direcção. “Está bom assim doutor. Isto é que vai cá um frio” diz-me ele. Ele, um arrumador. Um homem toxicodependente com aspecto frágil enfiado num casaco de uma imitação de couro dois tamanhos acima do apropriado. Instintivamente ou por cobardia meti a mão ao bolso e retirei algumas moedas. Tinha algumas moedas de 2 e de 1 euro que no total seriam cerca de 10 euros. Peguei numa moeda de 1 e carinhosamente com ar de bom feitor estendi-a para gentilmente a oferecer ao rapaz/homem/bicho. “Ó doutor não tem aí mais nada para me ajudar?”. Pára tudo. Pára tudo. 1 euro. 1 euro é dinheiro. 1 euro custa-me a ganhar. 1 euro mais um euro mais um euro é mais dinheiro ainda. Eu trabalho 12 horas por dia para ter mais alguns no bolso. Respondi-lhe que só o podia ajudar com aquela quantia e ainda me dei ao trabalho de justificar explicando que iria precisar do restante dinheiro para comprar uma coisa qualquer de que já não me lembro. O que aconteceu depois conto-vos mais logo que agora tenho mais que fazer.

Raiva.jpg

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